Recebi este e-mail de uma leitora que me segue atentamente e que foi o escolhido entre os 264824 que recebi esta semana:
"Tia Izi, Tenho um problema que não posso contar a ninguém, por isso procuro-a para que me ajude. Já sou crescidinha, mas não gosto. Prefiro continuar a achar que tenho, e a agir como tal, uns 25 anos. Padeço de uma doença mental, metaforicamente falando, que se chama ciúme. Tenho ciúme de tudo e de todos. Não suporto ver as atenções desviadas da minha pessoa. Preciso de atenção. Muita atenção. Se desviam a atenção de mim o ar falta-me e fico doente. Tenho ciúmes das amigas. Não delas, mas das pessoas que se dão com elas. Quero as amigas só para mim. Acho que elas não têm o direito de gostar de outras pessoas, sem ser de mim. Tenho ciúmes do meu namorado. Fico irritada quando ele sai com os amigos. Acho que ele não tem que ter amigos. Eu, além de namorada também posso ser amigo e dar arrotos e falar de gajas, se ele quiser. Tenho ciúmes dos colegas do trabalho, apesar de eu não trabalhar porque estou muito deprimida e faz agora um ano que estou de baixa psiquiátrica, por causa deste meu problema que me levou à depressão, mas não suporto que falem entre eles. Só deveriam falar comigo, acho eu. Tenho ciúmes da minha chávena de café e detesto quando alguém bebe por ela. Tenho ciúmes até da minha sombra, que faço questão de espezinhar quando ela vai à minha frente. Em suma, o que eu gostava mesmo era que só existisse a minha pessoa na vida de tudo e todos os que comigo se cruzam. Acha que me pode ajudar a mudar, ou então a eliminar as pessoas e coisas que estão a mais? Já pensei em usar um picador de gelo, mas isso iria fazer escorrer muito sangue e eu sou um bocado impressionável. Que faço, Tia Izi?
F.
Querida F,
A menina, antes de mais, tem de entender que na medida que os anos passam as pessoas amadurecem. Se não amadurecem é porque se recusam a ver o óbvio. De qualquer modo a única ajuda que lhe posso dar é a de a aconselhar a ir a um ortopedista. O que a menina tem é um problema de ossos. Começa com dor de cotovelo e acaba em dor de corno. São dores lixadas, dizem. Agora vá lá pegar no picador de gelo e use-o para as caipirinhas. Experimente beber uma num copo que não seja só seu e vai ver que se diverte muito mais. Se quer que tudo na vida seja só para si e só a veja a si, rodeie-se de espelhos. A querida deve ser uma chata do caraças, só lhe digo. Vá, agora ide lá viver a vida e lembre-se sempre daquela velha máxima da Chiado Editora: "Se a vida te der limões fica com eles. É sempre bom receber cenas grátis!"
Izi
Izi